Queima prescrita fortalece a prevenção e o combate a incêndios florestais na Chapada dos Veadeiros

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A queima prescrita, técnica controlada de manejo do fogo utilizada para reduzir o material combustível em áreas naturais, está sendo aplicada na Chapada dos Veadeiros (GO) como estratégia para prevenir incêndios de grande escala. Diferente das queimadas descontroladas, essa prática é planejada e monitorada por especialistas, considerando fatores climáticos e ecológicos para minimizar os impactos ambientais. No Cerrado, onde o fogo é um elemento natural, a queima prescrita tem se mostrado uma ferramenta essencial para a conservação do bioma e a proteção da biodiversidade.

Na Chapada dos Veadeiros — um dos principais refúgios naturais do Cerrado, reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco —, a técnica é aplicada dentro do escopo do Manejo Integrado do Fogo (MIF). Essa abordagem combina conhecimentos científicos, técnicos e tradicionais para prevenir incêndios florestais de forma sustentável. A regulamentação dessa estratégia foi estabelecida pela Lei nº 14.944, de 31 de julho de 2024, que define diretrizes para a prevenção e o combate ao fogo.

Atuação dos brigadistas voluntários, ICMBio e PREVFOGO
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é responsável pela implementação da queima prescrita nas unidades de conservação da Chapada. “Embora nossa atuação seja voltada para áreas protegidas, promovemos ações educativas em escolas e comunidades próximas ao parque, conscientizando sobre a importância dessa técnica na prevenção de incêndios descontrolados”, explica Pedro Paulo de Melo Cardoso, gerente do Fogo do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

O envolvimento da sociedade tem sido peça-chave na estratégia de combate ao fogo na Chapada. Segundo Lauro Jurgeaitis, presidente da Associação Veadeiros e brigadista voluntário há mais de duas décadas, a entidade se mobiliza sempre que possível, em parceria com a Associação de Empreendedores de São Jorge, para viabilizar ações e campanhas que garantam a atuação das brigadas voluntárias na região central da Chapada.

Para ele, o papel das brigadas é fundamental em todos os municípios da região. “Quem vive aqui, especialmente na zona rural, conhece o território e lida com essas questões ambientais há muito tempo”, afirma. Segundo Jurgeaitis, o trabalho se fortalece ainda mais quando realizado em parceria com o ICMBio, responsável pela gestão do Parque Nacional.

“Sou brigadista há mais de 20 anos. Quando comecei, nos anos 1990, as brigadas ainda não existiam como conhecemos hoje — muitas só passaram a ser formalmente registradas a partir de 2017”, lembra. “Naquela época, eu atuava numa área de 2 mil hectares ao redor do parque. Quando não há fogo dentro do parque, a equipe de lá nos apoia. Quando há, a prioridade passa a ser o combate interno.” Jurgeaitis também destaca o trabalho desenvolvido no Santuário Volta da Serra, onde voluntários mantêm um esquadrão dedicado à prevenção e ao combate de incêndios.

Diversas brigadas integram a linha de frente dessa rede. A Brigada Voluntária de São Jorge e a Rede Contra o Fogo atuam em Alto Paraíso de Goiás; a BRIVAC protege a fauna e a vegetação de Cavalcante; já a BVACS (Brigada Voluntária Ambiental de Colinas do Sul) tem papel decisivo no sul da Chapada. A Brigada Voluntária Guardiões da Cafuringa, do Distrito Federal, também presta apoio à região em momentos críticos. Segundo Lauro, é o apoio da comunidade que torna possível uma resposta rápida e eficiente, especialmente durante o período de seca, quando o combate diário às queimadas se torna urgente.

Cássio Tavares de Souza, coordenador do PREVFOGO em Goiás e servidor do Ibama, destaca a importância das brigadas comunitárias. “As comunidades locais e os brigadistas desempenham um papel essencial. Em Goiás, mais de 95% dos brigadistas contratados são de comunidades quilombolas, que possuem um conhecimento valioso sobre o comportamento do fogo”, afirma.

Criada em 2017, após os grandes incêndios que devastaram a região, a Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC) é um dos grupos mais ativos na queima prescrita. “Temos cerca de 30 voluntários sazonais que participam de ações locais e nacionais. Um de nossos brigadistas já integrou a missão internacional que foi para o Canadá”, conta João Carlos Ribas, secretário municipal de Meio Ambiente, Turismo e Cultura de Cavalcante.

Além da BRIVAC, outras brigadas estruturadas atuam na Chapada, como a Rede Contra o Fogo, em Alto Paraíso, e a Brigada de São Jorge. Todas colaboram com as operações coordenadas pelo Plano Operativo, construído em conjunto com os órgãos ambientais, brigadas voluntárias e secretarias de meio ambiente.

Segurança e eficiência da queima prescrita

Entre as dúvidas sobre a queima prescrita, uma das mais frequentes é se a técnica poderia aumentar o risco de incêndios. Cardoso esclarece que a segurança está no planejamento. “O nome já diz: é queima prescrita. São seguidos critérios rigorosos, como previsão climática e delimitação precisa das áreas a serem queimadas. O problema ocorre quando não há medidas preventivas adequadas.”

Souza reforça que a queima prescrita cria barreiras naturais contra incêndios descontrolados. “Pesquisas mostram que, em regiões da Chapada onde essa técnica foi aplicada, houve uma redução de até 60% na incidência de grandes incêndios. Além disso, a queima controlada reduz o excesso de biomassa e estimula a regeneração natural do Cerrado”, explica.

Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, a implementação da queima prescrita enfrenta desafios, especialmente em áreas protegidas. “Os ecossistemas da Chapada exigem um equilíbrio delicado entre a conservação da biodiversidade e o manejo do fogo”, destaca Souza. Problemas logísticos, como o acesso a regiões remotas e a necessidade de capacitação contínua dos brigadistas, também são obstáculos.

Para João Carlos Ribas, fortalecer as ações de Manejo Integrado do Fogo (MIF) é essencial para a proteção do bioma. “Com planejamento, conhecimento técnico e participação comunitária, conseguimos minimizar os impactos negativos dos incêndios e garantir a saúde desse ecossistema tão rico e fundamental para o equilíbrio ambiental”, conclui.

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